Introdução
O que para muitos é tido como uma prática nova, cercada por modismos
passageiros e guiada por sensos estéticos irreais, na verdade, em sua real
essência, nasceu em 1970 e trouxe à mulher um sentimento que ela começara
a experimentar 10 anos antes com o nascimento da primeira pílula
contraceptiva: o de controle sobre si e sobre as insatisfações do seu corpo,
colocando-a como protagonista do seu bem estar íntimo.
Contexto histórico
Ao contrário da postectomia masculina (ou cirurgia de fimose),
considerada a cirurgia íntima mais antiga do mundo (realizada desde o Egito
Antigo) 1 , a discussão acerca das cirurgias íntimas na mulher é mais recente,
complexa e envolve algumas dicotomias culturais, históricas e éticas.
Ao avaliar a percepção corporal da genitália feminina pelas mulheres,
percebemos visões e interpretações muito particulares entre o que o Ocidente
e o Oriente enxergam como ideal e esbarramos em uma linha tênue entre o
que é ato cirúrgico e o que é considerado mutilação genital. Um estudo
conduzido por Jillian Lloyd² em 2004 nos Estados Unidos, expôs fotos de 50
vulvas com diferentes formas, cores e idades para mulheres de 18 a 50 anos
decidirem qual modelo de vulva seria considerada “normal”. O resultado, por
grande maioria, foi a vulva que apresentava as menores medidas de clitóris, pequenos e grandes lábios e capuz clitoriano. Em contrapartida, do outro lado
do mundo, diversas tribos da Índia consideram a hipertrofia dos pequenos
lábios sinônimo de beleza e fertilidade 3 . No outro lado da discussão, rituais
religiosos no sul da Ásia e em tribos africanas, como no Sudão, usam da
exérese de clítoris e pequenos lábios, sem consentimento, como rito religioso
de passagem e de purificação 4 .
O que deve ficar claro é que as cirurgias íntimas que nasceram em 1970 e
foram aperfeiçoadas nos dias de hoje, vieram com um objetivo simples de
romper preconceitos e entregar conforto e autoestima às mulheres que se
sentiam oprimidas por terem insatisfações estético-funcionais com uma área
tida por muito tempo, como “proibida”.
Existem indicações?
O termo validado pela FIGO e mundialmente conhecido como FGCS
(Female Cosmetic Genital Surgery) 5 , ao contrário do que muitos pensam, não
é sinônimo de uma única cirurgia, mas, como conceito, o termo simplifica e
generaliza uma série de procedimentos cirúrgicos específicos para cada área
anatômica vulvo-vaginal, visando a correção de inesteticismos provocados
(como os traumas de parto vaginal) ou a correção de insatisfações anatômicas
trazidas e percebidas pela própria paciente, estando aí a maior indicação das
correções cirúrgicas íntimas: o desejo da paciente.
Rotineiro na Cirurgia Plástica, mas ainda incomum para o médico
Ginecologista, a indicação cirúrgica nesse caso, ao contrário de diversos outros
procedimentos pautados nas correções de doenças, é subjetiva e individual,
invertendo a ordem de quem propõe o tratamento final. Contudo, o médico se mantém como figura responsável, proscrevendo aquilo que foge dos pilares
éticos e buscando sempre gerar a harmonia e a simetria como resultado final.
Os 5 pilares
Nos cursos do Instituto Paulo Guimarães ensina-se que a indicação, de
forma conjunta à dor trazida pela paciente, deve sempre abranger a avaliação
dos “ 5 Pilares da Estética Genital Feminina”: a forma, a cor, a textura da pele, o
volume, e a função.
- Forma: foco principal na correção cirúrgica das hipertrofias
(Labioplastia menor redutora, capuzplastia, cliteropexia e outras) - Cor e textura da pele: avaliação das hipercromias e da flacidez da pele
(Laser, Radiofrequência macro e microablativa, peelings genitais e outros) - Volume: foco nos preenchimentos (lipotransferências e bioplastias com
Ácido Hialurônico, bioestimuladores (ácido polilático e HIFU) ou na correção do
excesso de gordura do Monte de Vênus - Função: foco no combate das alterações funcionais (uso do laser e RF
nas incontinências urinárias de esforço e na Síndrome genitourinária da
menopausa ou cirurgias de colpoperineoplastia, dentre outros).
A ideia principal é que, seguindo a avaliação baseada nesses 5 pilares, o
médico não se prenda a uma única técnica cirúrgica conservadora e imutável,
conseguindo personalizar a cirurgia e os procedimentos complementares com
um objetivo final focado na simetria e na harmonização da região íntima. Não
existem indicações absolutas e inquestionáveis, não existem classificações
padronizadoras. Nos procedimentos cosmetoginecológicos, o fio norteador é
simples: simetria, proporção e bem-estar da paciente.
As principais cirurgias
Conhecida por muitos como Ninfoplastia, a Labioplastia Redutora Menor é
sem dúvidas o procedimento mais realizado e difundido da
Cosmetoginecologia (FCGS). A cirurgia que dura em média 1 hora e visa a
correção da hipertrofia dos pequenos lábios, tem o poder de transformar a
autoestima das pacientes que sofrem com dores e constrangimentos dessa
pequena variação anatômica idiopática.
No mesmo sentido, a incorporação da tecnologia no mundo da
Cosmetoginecologia revolucionou a precisão cirúrgica e qualidade dos
resultados cirúrgicos-estéticos. A lâmina de bisturi e a tesoura, deram lugar às
fontes de energias como o Laser de Co2 e a Radiofrequência, que além da
versatilidade do uso, garantiram procedimentos mais hemostáticos, precisos e
dinâmicos. Hoje em dia, sabemos que as áreas da medicina que mais crescem
são aquelas que conseguem incorporar à sua prática os avanços positivos trazidos pelas inovações tecnológicas e, na ginecologia, as cirurgias estéticas
íntimas assumiram essa importante vanguarda.
O que deve ficar claro é que, muitas vezes, o inesteticismo não está apenas
relacionado à hipertrofia dos pequenos lábios, sendo necessária a abordagem
conjunta de alterações da flacidez do capuz clitoriano e hipertrofias do próprio
clitóris, cirurgias que muitas vezes passam despercebidas por falta de
planejamento cirúrgico prévio (avaliação dos 5 pilares) ou por falta de
conhecimento técnico pelos cirurgiões da área.
A capuzplastia é a cirurgia que aborda os excessos do capuz clitoriano,
sejam eles causados por hipertrofias ou por flacidez lateral ou longitudinal 7 .
Dentre as formas de correção, a técnica da Dupla Seta criada pelo Dr Paulo
Guimarães (Figura 2), ou seja, a incisão em dupla seta na região apical do capuz
clitoriano (comissura) com posterior desepitelização da pele destacada e
aproximação dos bordos, tornou-se uma opção hemostática e muito eficaz na
correção da flacidez transversal. . Já a Cliteropexia para correção das hipertrofias
de Clitóris, começaram a ganhar mais espaço e fomentar novos estudos de
técnicas 8 devido ao aumento do uso indiscriminado de hormônios
anabolizantes na atual geração de mulheres. Como na labioplastia, as formas
de incisão e exérese devem ser preferencialmente feitas com a
Radiofrequência ou o Laser de CO2.
Como todas as áreas do conhecimento, a medicina precisa ser vista como
uma ciência dinâmica que acompanha as mudanças de padrões
comportamentais e organizacionais da sociedade. Com o aumento da
expectativa de vida de uma sociedade dominada numericamente por
mulheres, a ginecologia que valoriza a prevenção, que entende as
necessidades funcionais e estéticas da mulher moderna e que entrega
envelhecimento saudável, não é mais uma opção de luxo, mas uma
abordagem obrigatória para aqueles que priorizam o bem-estar de suas
pacientes. Nesse sentido, extrapolando a teoria, uma metanálise que avaliou
1000 publicações sobre o tema, intitulada “Labian Surgery for well women: a
review of literature”, constatou que, após a realização da cirurgia íntima: 71%
das mulheres referiram melhora da vida sexual, 23% conseguiram atingir
orgasmos pela 1ª vez e 91% relataram estar satisfeitas por completo com sua
região íntima 9 . Assim, a ideia não é vender o procedimento como uma “cirurgia
do prazer” milagrosa, nada disso. O foco está no resultado estético da cirurgia
como mecanismo de elevar a autoestima da mulher, fazendo-a caminhar para
realização e satisfação plena de sua sexualidade. Esse é o plano, essa é a
essência.